Soberania digital é a nova fronteira do poder global, por Washington Araújo
Viver sem soberania digital é como habitar uma casa que não nos pertence. Há teto sobre a cabeça, paredes que protegem da chuva, mas as chaves ficam sempre nas mãos de outros. Essa é a condição do Sul Global, sujeito a regras externas e dependente de tecnologias alheias.
No século XXI, soberania não se mede apenas por fronteiras físicas ou arsenais militares. Ela é determinada pela capacidade de um país proteger dados, controlar redes e governar plataformas. Quem não domina o espaço digital perde autonomia política e econômica, tornando-se refém invisível de poderes externos.
Nos Estados Unidos, soberania digital confunde-se com hegemonia. Google, Amazon, Microsoft, Meta e Apple projetam poder além das fronteiras, moldando a vida digital de bilhões. Países que dependem de softwares do Vale do Silício ou armazenam dados em servidores norte-americanos entregam parcelas críticas de sua autonomia. A nuvem aprisiona.
O discurso oficial norte-americano fala em liberdade digital, mas o que está em jogo é a manutenção de sua primazia global. Washington compreendeu que o controle de dados é tão estratégico quanto petróleo. A soberania digital, para os EUA, significa que o mundo inteiro continua orbitando em sua esfera.
Para a China, soberania digital significa blindagem. Daí a noção de “ciber-soberania”: o Estado como árbitro supremo do que circula em seu espaço........
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