menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Mistura explosiva entre igrejas e política partidária criou o inferno em que estamos

10 0
previous day

Há um erro de origem que precisa ser nomeado com clareza antes de qualquer crítica política: quando a religião entra na política para disputar poder, ela renuncia à sua própria razão de existir. E quando a política se apropria da religião para legitimar-se, abandona o solo comum da razão pública e da legalidade democrática.

O resultado não é apenas degradação institucional, mas desorientação espiritual coletiva. A democracia brasileira vive esse curto-circuito de forma cada vez mais visível: o púlpito transformado em palanque, o palanque disfarçado de altar, e a verdade reduzida a ferramenta de mobilização emocional.

Religião e política não são inimigas — mas pertencem a planos distintos da experiência humana. Devem coexistir como óleo e água: no mesmo recipiente social, sem jamais se confundir. A política opera no plano da organização externa da vida coletiva; a religião, no da transformação interior do ser humano. Uma cuida da administração do poder; a outra da formação do caráter. Quando essa fronteira é rompida, ocorre uma inversão perigosa: a fé passa a servir ao poder, e o poder passa a falar em nome de Deus. É como se uma mesa ou uma cadeira produzida pelo carpinteiro passasse a falar em seu nome. Existe algo mais tosco e ridículo do que isso?

A política, por sua própria natureza, é atravessada por disputas, negociações, interesses e estratégias. Ela precisa disso para funcionar. Mas justamente por isso não pode ser o espaço da elevação moral.

A religião, ao contrário, nasce para educar a consciência humana, não para vencer eleições. Seu papel histórico sempre foi o de criar ordem interior, promover tranquilidade social e despertar virtudes latentes que nenhuma lei consegue impor. Quando cumpre essa função, torna-se fundamento invisível da civilização; quando a abandona, transforma-se em superstição organizada ou em empresa de poder.

O velho axioma permanece implacável: não se........

© Revista Fórum