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Uma educação para além do bem e do mal

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Defendemos que hoje a função da educação é a de fornecer ferramentas para que o indivíduo seja capaz de promover uma leitura transmidiática. Saber ler o fluxo contínuo de informação que a sociedade contemporânea produz é vital para a compreensão e transformação da realidade. Nesse texto, pretendemos observar um elemento fundamental que compõe o discurso midiático: a mitologia entre o bem e o mal.

Lógico que se trata de um conflito milenar oriundo da teologia dualista de Zaratustra[1], contudo a questão é que a mídia se apropriou de tal conflito como um instrumento de interpretação da realidade. As “narrativas televisivas definem as situações em termos vagos, como disputas entre heróis e vilões ou, de forma mais abstrata, entre o bem e o mal”[2], explica a pesquisadora Melina Meimaridis, que faz um estudo profundo sobre as séries de conforto.

Essa lógica não se reduz apenas a séries e filmes. O professor Eugênio Bucci destaca que “o noticiário da atualidade constrói pequenas novelas diárias ou semanais cujos protagonistas são tipos da vida real absorvidos por uma narrativa que funciona como se fosse ficção”.[3]

O pensamento do indivíduo moderno é formatado pelo seu contato constante com informações oriundas de diversas mídias. Essas informações, constantemente, são apresentadas através de uma lógica bipolar pautada no conflito entre o bem e o mal.

Certo dia, em uma aula sobre Napoleão Bonaparte, um aluno questionou a atuação do líder francês ao anunciar o Bloqueio Continental contra a Inglaterra. A sua dúvida foi: “Professor, isso foi bom ou ruim?”. Eu expliquei que não se tratava dessa dicotomia, mas de um processo de formação do mundo moderno, etc. Ele demorou para compreender, pois sua forma de apreender o mundo está submetida a estrutura binária que a mídia o ensinou.

Essa maneira estruturada pelo discurso midiático é uma violência simbólica que impede outras formas de concepção da realidade. O conflito real, a luta de classes, de interesses, é obliterado, abrindo espaço para teorias da conspiração e (o que é mais importante) para falsas polarizações políticas.

Num mundo dominado pela lógica da informação, o estímulo é o que incendeia o desejo. A indústria da informação não quer perder tempo explicando o conteúdo que fabrica. É mais lucrativo produzir outro conteúdo. Sendo assim, sistemas........

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