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Bares Brasil afora (e adentro) III

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No Mercado das 7 Portas, o Bar do Alagoano era uma referência. Estive algumas vezes nele. Um dos frequentadores assíduos era o Heládio, apreciador cotidiano do seu “sarapatel com essência”, especialidade da casa. Pra quem não sabe, sarapatel é uma comida feita de miúdos de porco. E o tal “sarapatel com essência” feito no Alagoano era considerado o melhor da cidade, tinha um gostinho diferente, inigualável, um segredo que muitos tentavam descobrir, mas ninguém revelava.

Um final de noite, depois de fechar a bodega, a cozinheira ficou bebendo com o Heládio e contou o segredo desse acepipe. Cada dia uma das moças da casa colaborava com o toque que dava o gostinho especial ao seu sarapatel: uma calcinha usada durante no mínimo três dias, colocada pra cozinhar junto com os miúdos.

Um lugar que gostava de ir também era uma birosca, uma barraquinha mesmo, ao lado da TV Itapoan, no bairro da Federação. Um amigo, o Elso, era câmera da TV e frequentava a tal birosca. Uma vez, no fim de 1971 ou início de 72, marcamos um encontro lá e quando cheguei ele já bebia acompanhado por um homem bem mais velho do que nós. E me apresentou: “Este é o Batatinha”. Fiquei pasmo. Batatinha era um grande compositor e fiquei sabendo ali que o que ganhava para viver era num emprego mal pago na TV, não como músico, mas numa função que não me lembro. Suas músicas tinham um paradoxo, para mim: tinham ritmo alegre e letra triste. A que gosto mais é uma que Maria Bethânia regravou na época, que começa assim: “Todo mundo vai ao circo / menos eu, menos eu... / por não poder pagar ingresso / fico de fora escutando a gargalhada”. Hoje, um dos circuitos do carnaval de Salvador tem o nome Batatinha.

Dali um pouco chegou um amigo de São Paulo, o Mariozinho, que seu sabia que também era grande fã do compositor. Aí fui eu que o apresentei: “Este é o Batatinha...”. O Mariozinho ficou meio paralisado. Era um dos anarquistas mais avessos às formalidades que já conheci, mas ficou todo formal e o cumprimentou: “Muito prazer, Mário Pires”. Ficou um clima estranho com tanta formalidade e pra quebrar o gelo, falei: “Mas pode chamar ele de Janete. Depois da meia-noite ele se assume...”. Acharam que era verdade, e daquele dia em diante todos os chamavam de Janete em Salvador.

Era a primeira vez que o Mariozinho ia a Salvador. Passou a ir todos os anos e, depois de aposentado, ficava meses lá. E até morrer, em 2014, em Salvador era........

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