O naufrágio da civilização (contra a fascização de quase tudo)
O fascismo cerca-nos. Os que recusam o fascismo sentem-se acossados, como se fossem ilhas e o fascismo fosse o soberano das marés que empurra a sua água para terra. O lugar-comum que tomou conta do discurso político, de alguns comentadores influentes e de uma certa voz popular que se amplifica, transfigurou o fascismo num arsenal monotemático que se usa contra o inimigo ou o adversário (consoante o grau de radicalização do sujeito que desqualifica), reduzindo-o a um banal “fascista”. Assim se reinventa um conceito, ofendendo a História e as vítimas do fascismo.
Quando o anátema é personificado por intelectuais, o caso fica mais sério. Se até eles trivializam o conceito e encerram quase todos os males contemporâneos no fascismo, atropelando a História e a Ciência Política, a desolação passa a ser o chão comum. Segundo António Guerreiro (“A vida não fascista”, Ípsilon, 11.07.25), “independentemente de estar a acontecer uma disseminação de algumas formas históricas do fascismo, o triunfo das afecções fascistas marca o nosso clima epocal”. Entre os vários exemplos que o provam, Guerreiro avança com os “(...) actos e [os] prazeres que nos são incutidos (por exemplo, a televisão, o turismo e o entretenimento são actualmente concentrados de vida fascista)”.
Os populismos assustam-me. Também os de........
© PÚBLICO
