Um país moderado de Bragança a Freixo de Espada à Cinta
O Governo quis brincar com a semântica. Onde antes havia “renda acessível”, conceito já frágil e desajustado, passa agora a existir “renda moderada”. A palavra é aparentemente inofensiva, até simpática: moderada soa a equilíbrio, a razoabilidade, a bom senso. Mas basta olhar para o número colado a esse rótulo – 2300 euros – para perceber a ironia. Foi este o teto anunciado por Miguel Pinto Luz, apresentado como resposta à classe média, com deduções no IRS benefícios fiscais para senhorios. No discurso oficial parece política de habitação. Na prática é política de mercado, que cria a ilusão de resposta social quando, na verdade, responde ao lado da oferta e ao interesse de quem detém o património.
Os números não enganam: em 2024, o salário médio em Portugal foi de 1602 euros brutos. O salário mediano – o que divide os salários em duas metades – ficou nos 1013 euros, ou seja, metade dos trabalhadores recebe menos do que isto. A OCDE........
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