IA, (I)Literacia e Populismo: da Inteligência Arti
Bastam segundos para que um chatbot como o ChatGPT nos devolva a resposta. Não uma entre várias, mas “a certa” – apresentada com segurança, referências se as pedirmos e até imagens. É tentador aceitar, copiar e seguir em frente. Afinal, quantas vezes temos tempo (ou disposição) para duvidar?
Em abril de 2025, a OpenAI encerrou o acesso ao antigo GPT-4 e substituiu-o integralmente pelo multimodal GPT-4º, um modelo capaz de “raciocinar em tempo-real sobre texto, som e imagem”. Desde então, a plataforma supera os 200 milhões de utilizadores diários. Nunca tanta gente confiou em algoritmos para decidir o que ler, comprar ou pensar.
Primeiro pedíamos à IA que nos poupasse trabalho mecânico: traduzir, somar faturas, sugerir rotas. Hoje delegamos-lhe raciocínios inteiros — da recomendação de medicamentos over-the-counter à elaboração de planos de negócio. O resultado? Cascatas de decisão automatizada em que os humanos surgem apenas no fim da linha, a confirmar o que a máquina já fez.
A tentação é ainda maior numa cultura cada vez mais digital. Redes como TikTok e X (ex-Twitter) selecionam conteúdos que maximizam o nosso tempo de ecrã; algoritmos de “recompensa” aprendem a servir-nos doses crescentes do mesmo, dispensando a dissonância que faz pensar. Estamos, sem querer, a treinar um reflexo pavloviano de confiança: se vem rápido e formatado, só pode ser verdade.
A ciência cognitiva chama-lhe epistemic overconfidence: quanto menos sabemos sobre um tema, mais convencidos ficamos da resposta fácil. A IA amplifica o fenómeno, porque oculta a ambiguidade que existia nas pesquisas tradicionais. Anteriormente, a uma pesquisa sobre algo que nos inquietava o Google devolvia dezenas de links relevantes para procurarmos a (nossa) resposta; agora recebemos um texto sintético, sem margem para........
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