Populismo à Esquerda e à Direita
Vivemos tempos em que as soluções fáceis para problemas difíceis ganham cada vez mais espaço. O populismo renova-se, conseguindo sempre ser descrito como algo novo, mas o truque é velho. Recorre a estratégias simples e eficazes: identifica um inimigo, opõe o “povo puro”, as “pessoas comuns”, os “portugueses de bem” a uma elite corrupta e promete justiça através de medidas imediatas, muitas vezes impraticáveis e irrealistas. Tanto à esquerda como à direita, os populistas utilizam este modelo com grande eficácia, explorando frustrações reais da população para apresentar respostas simplistas que ignoram a complexidade dos desafios sociais.
Em Portugal, temos exemplos claros deste fenómeno.
À esquerda, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista construíram boa parte do seu discurso com base na ideia de que os ricos — banqueiros, grandes proprietários, empresários — são os responsáveis por praticamente todos os problemas do país, desde a habitação à precariedade laboral, passando pelo colapso dos serviços públicos. A culpa, segundo esta narrativa, recai sempre sobre uma elite económica que lucra à custa do povo.
À direita, o Chega repete a fórmula, mas com alvos diferentes: os imigrantes, a comunidade cigana, os políticos do sistema, todos apontados como responsáveis por problemas tão variados como a insegurança, a sobrecarga do SNS ou o estado da educação. Este inimigo formulado tem sempre uma personalidade vaga, sejam os “ricos” ou o “Sistema”, permitindo uma abordagem abstrata contra os mesmos.
Enquanto ninguém souber/ compreender exatamente o que é um “rico” ou “o sistema”, o combate aos mesmos........
© Observador
