“Adolescência”, ou a geração dos órfãos digitais
A semana passada, vimos cá em casa, quase de uma assentada só, “Adolescência”, a minissérie britânica da Netflix que, apesar da pouca promoção, chegou rapidamente ao topo das audiências. Pelo que li, a produção de “Adolescência” é destacada pelos mais cinéfilos pela proeza técnica: cada um dos quatro episódios, com cerca de uma hora, terá sido filmado num único “take”, sem qualquer corte, algo que impressiona se pensarmos que o terceiro episódio, pleno de intensidade, tem como principal protagonista uma simples criança.
Mas se “Adolescência” está a deslumbrar pelo seu enredo, técnica e interpretações, o ângulo que quero explorar nesta crónica é, na linha de outras que por aqui tenho publicado, o retrato do mundo à parte onde as nossas crianças e adolescentes estão a ser criadas, algo que não pode deixar de causar marcas profundas em quem assista a estas coisas procurando discernir a sua mensagem.
“Adolescência” abre com a entrada violenta de uma equipa SWAT na casa de Jamie Miller, um rapaz de 13 anos acusado de assassinar Katie, uma colega da escola. Ao longo dos episódios acompanhamos a investigação policial e, sobretudo, as repercussões emocionais sobre Jamie e a sua família, especialmente sobre o seu pai.
Jamie é uma personagem complexa: tímido e aparentemente inocente, revela-se gradualmente perturbado por conteúdos digitais extremos, exibindo uma personalidade formada num limbo moral situado algures entre a fantasia e realidade. Os seus pais, pessoas adoráveis e a quem é difícil imputar........
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