Está na hora de ouvir o que o país realmente sente
Cheguei a Portugal em 1998. Vim de fora, de um país longínquo, com outra cultura, outra religião, outro idioma. Era, objetivamente, um imigrante. Mas fui recebido com muita simpatia, curiosidade e — com o tempo — genuína hospitalidade. Estudei, trabalhei, casei com uma portuguesa, criei raízes. Vivi o que muitos considerariam um “caso de sucesso” de integração. Hoje, vivo entre a Índia e o Portugal, e continuo a acompanhar de perto o que se passa no país que me acolheu e que continua a ser, em muitos sentidos, o meu lar.
Falo português com um grau razoável de fluência — com sotaque, sim, mas com vocabulário e alma. Aprendi com o tempo, em casa, no trabalho, nos cafés, nas conversas de esquina. Reconheço a cor especial da luz de Lisboa como fosse uma alfacinha. Aprendi também a gostar profundamente da cultura portuguesa: a gastronomia, os vinhos, a história, o sentimento trágico e belo do país. O fado não é o meu género musical favorito, mas tive o privilégio de assistir a um concerto da Cuca Roseta em Goa — e foi uma experiência orgânica, comovente, difícil de explicar. Um arrepio no corpo que só a verdade artística pode causar.
O meu filho é sócio feroz do Benfica, um verdadeiro amante de alheiras e das tradições locais. E eu, com a pele visivelmente morena, caminho pelas ruas portuguesas como alguém que........
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