A Nova Geografia do Poder Local
Aproximam-se as eleições autárquicas e, com elas, a possibilidade de confirmar uma reconfiguração profunda do espaço político local em Portugal. Dois fenómenos impõem-se como centrais na análise: a consolidação de movimentos independentes enquanto atores relevantes e a entrada crescente da extrema-direita nas disputas autárquicas, com possibilidade real de eleição. Embora distintas, estas duas dinâmicas são expressão de um mesmo mal-estar: a erosão da legitimidade das estruturas partidárias tradicionais e a crise do vínculo entre partidos e sociedade. A leitura destas transformações exige rigor, lucidez e capacidade de projeção crítica sobre o que poderá estar em causa para a democracia local portuguesa.
O fenómeno dos movimentos independentes tem vindo a crescer de forma sustentada desde as reformas legislativas de 2001 e 2005, que facilitaram a apresentação de candidaturas fora dos partidos. Contudo, é a partir de 2013 que se assiste à sua afirmação como alternativa sólida em múltiplos municípios. Este crescimento não se explica apenas por dinâmicas de rejeição ou protesto, mas também por razões estruturais e organizacionais. Os partidos, em muitos contextos, revelaram-se incapazes de atrair e manter quadros com reconhecimento local, fecharam-se em lógicas de lealdade interna e reproduziram modelos de seleção de candidatos desajustados da realidade social.
Neste sentido, os movimentos........
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