menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Breve metáfora sobre a revolta dos humanos

9 27
21.09.2025

1 As sociedades contemporâneas tornaram-se caóticas, inviáveis, auto destrutivas. Os seus ideólogos e pensadores partem de premissas equivocadas acerca do Homem, considerando que a sua natureza pode ser manipulada, alterada ao longo do tempo; considerando que essa mesma natureza está em constante progresso, sujeita a um mobilismo que lhe é intrínseco. Será que precisamos de uma nova visão de Ser Humano? Será que precisamos de uma nova antropologia humana? Não e não! Deixemo-nos de fantasias; só existe um ser humano, só existe uma antropologia. O ser humano é uno e indivisível, e sempre foi assim. Os homens que, há mais de 20 mil anos A.C., desenharam as figuras rupestres do Côa são, no essencial, exactamente os mesmos que os homens que as visitam, na actualidade; os mesmos anseios de sobrevivência, as mesmas necessidades de alimentação, de abrigo, de segurança, de saúde, de família, de amor, de amizade, de realização pessoal, de reconhecimento, de transcendência, de busca de sentidos para a vida, etc. Nada mudou, não existe uma antropologia alternativa, só existe uma antropologia.

2 O elemento ideológico, componente incontornável da vida social, e outrora factor de variedade e pluralismo, tornou-se um vírus aniquilador dos seus próprios pressupostos iniciais, acabando por dar corpo a uma verdadeira Religião de Estado. Promoveu uma espécie de colectivismo, mascarado de uma“unidade de formigueiro”, infectando comunidades, gerações, grupos, famílias, pessoas… com as suas fórmulas e projectos de sociedade. Recorreu a várias formas e sabores mas, no essencial, todos são coincidentes rumo ao velho “paraíso na terra”. Sabendo ele dos anseios humanos acerca do transcendente, e da necessidade dos mesmos serem preenchidos com alguma “coisa”, apresenta-se, então, como um verdadeiro sucedâneo religioso, garantindo a tão desejada e prometeica salvação do homem. O Homem, é um ser estruturalmente religioso; e ser religioso, quer dizer que é aberto à transcendência, ao sublime, à plenitude, a algo belo e elevado, que está para além de si próprio e, de certa maneira, inalcançável. Ele não pode, por isso, ser amputado de uma das suas dimensões mais estruturantes, mais constitutivas, mais vitais… sob pena de definhar, atrofiar, desfalecer e, finalmente, morrer. Muitos especialistas da nossa praça invocam o pilar da Constituição, e o cumprimento do respectivo império da lei, como garante da ordem, da prosperidade e da felicidade humana; basta a Constituição. Mas esta é uma visão miope e muito redutora da natureza humana e da própria realidade. Como se as comunidades pudessem viver de forma justa e saudável apenas por se encontrarem numa alegada e proclamada legalidade, como se fosse suficiente o mero cumprimento da lei. Como se uma sociedade não tivesse de estar enraizada noutras dimensões estruturantes, fundantes, nucleares, vitais… as quais, vão muito para além dos enquadramentos legais, meramente transitórios e circunstanciais. Mais cedo que tarde as pessoas vão perceber que foram enganadas e vão-se revoltar…

3 Mas ela (a ideologia) está, nos seus propósitos, condenada à partida, pois da sua natureza parcial, finita e conjuntural não pode gerar-se qualquer possibilidade de a substituir (à religião) como cimento que dá coesão, como princípio vital que dá vida, como factor de unidade que dá sentido. Continua, lamentavelmente, a haver muita gente que insiste que “é o rabo que abana o cão”, continua a haver muita gente que tem uma relação bastante criativa com a realidade e com a verdade das coisas, frequentemente negando-as. Mas o resultado está à vista: o hiper individualismo, o relativismo moral exacerbado, a dramática........

© Observador