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Camões, um herói à nossa medida

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10.07.2025

Quem for pela Rua Garrett em direção ao antigo Largo das Duas Igrejas, posteriormente rebaptizada Praça de Camões, inevitavelmente dará de caras com a estátua erguida ao nosso vate nacional, contanto que conjure coragem suficiente para pular a turbamulta inane de turistas. Ultrapassadas as selfies e o fragor babuíno d’ A Brasileira — e tereis muita sorte se não estiverem por lá uns acrobatas –, lá está ele. Fronte laureada e mirando a lonjura, desafiante e soldadesco, punho cerrado sobre o peito e a espada pendente. Quatro metros de bronze sobre um pedestal de sete e meio. De tão altaneiro, é o Camões apoteótico que ali figura. Não há nele membros lassos ou proporções humanas – é o príncipe dos poetas e o cantor do peito ilustre Lusitano quem contempla o horizonte, inteiriço e fero.

À distância de cinco séculos, que tudo magnifica, é o retrato justo e digno do maior dos nossos poetas, além da projeção de uma forma mentis nacional que tem o condão de nos arregimentar sob o estandarte do seu génio. E é, talvez, a compensação possível do maior dos nossos opróbios. Refiro-me ao significado que encerra, para a nossa consciência colectiva, o epitáfio mandado erguer por parte de D. Gonçalo Coutinho, seu amigo: “Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo: viveu pobre e miseravelmente, e assim morreu em 1579”. Até hoje, estas palavras parecem levantar-se do pó dos séculos para nos lançar em rosto a imagem desse Camões indigente e mísero. Circunvoluções mais propensas à fabulação e ao........

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