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“Saíram as notas”

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27.07.2025

Este ano fui um dos muitos professores colocados com habilitação própria – uma medida extraordinária para colmatar a falta de docentes em várias escolas. Sou engenheiro físico de formação, professor de coração, e estas são algumas reflexões que vos quero deixar depois de um ano a lecionar Matemática A numa escola secundária em Lisboa.

Comecemos então pelos exames. Os seus resultados afetam dois aspetos da vida dos alunos: a classificação final da disciplina e o ingresso no ensino superior.

No entanto, a leitura dos resultados deve ser feita com precaução, pois desde a pandemia que o número de exames obrigatórios tem sofrido algumas alterações. Por exemplo, em 2015, um aluno do curso de Ciências e Tecnologias tinha de realizar quatro exames nacionais obrigatórios para concluir o secundário. Em 2020 e 2021, em contexto pandémico, os exames foram apenas exigidos como provas de ingresso. Este ano, exigiu-se a realização de pelo menos três exames, com Português como obrigatório.

Estas mudanças alteraram o perfil dos alunos que fazem exame – e isso influencia diretamente as médias. Muitos estudantes optam por fazer exame apenas às disciplinas onde têm melhor preparação, o que eleva artificialmente os resultados globais. Além disso, houve também algumas alterações curriculares nas diferentes disciplinas, que permitem comparar diferentes fases de políticas educativas.

Se olharmos para os exames de Matemática A (12.º), de Biologia e Geologia (11.º) e, sobretudo, Física e Química A (11.º), percebe-se uma evolução com dois momentos distintos.

Entre 2010 e 2014, as médias mantêm-se estáveis ou mesmo em queda — em Física e Química A, por exemplo, situavam-se frequentemente abaixo dos 90 pontos.

A partir de 2015, inicia-se uma tendência de subida das médias, visível de forma consistente nos anos seguintes.

Com a pandemia, a partir de 2020, essa tendência intensifica-se, com médias que ultrapassam regularmente os 110 pontos. Esta evolução coincide com alterações graduais na estrutura e tipologia dos exames, como o aumento do peso das perguntas fechadas (como escolha múltipla, seleção ou correspondência) e, mais recentemente, a introdução das perguntas opcionais. Embora estas mudanças possam ter surgido com objetivos legítimos — de equidade, adaptação ou simplificação –, o seu efeito cumulativo tem sido o de suavizar a exigência e elevar as médias, independentemente da aprendizagem real.

Esse salto é particularmente evidente a partir de 2020, quando, no contexto da pandemia, foram........

© Observador