A Amplitude da Sexualidade na Psicanálise Clássica
A teoria das pulsões, cuja configuração inicial expusemos na parte II, desenvolveu-se acabando por sofrer alterações significativas decorrentes da adoção de novos conceitos. Nesse sentido, cumpre-nos agora esclarecê-los e realizar uma breve síntese dos dualismos resultantes dessa evolução. Freud contrapõe, num primeiro momento, as pulsões sexuais às pulsões de autoconservação (ou pulsões do ego); estas prendem-se com a necessidade fisiológica de nutrição do organismo. A dinâmica evolutiva da psique suscita o surgimento de um conflito interno quando, a partir de determinada fase do desenvolvimento psíquico, a instância do ego — assente no impulso de autoconservação — se superioriza face às pulsões sexuais pertencentes à instância do Id. Na obra Para Além do Princípio do Prazer (1920), essa superiorização é explicada da seguinte forma:
“Sabemos que o princípio do prazer é adequado para um modo de funcionamento primário do aparelho mental, mas que desde o início se revela inútil ou mesmo altamente perigoso para a subsistência do organismo no seu confronto com os obstáculos do mundo exterior. Sob a influência dos instintos de autoconservação do ego, o princípio do prazer será substituído pelo princípio da realidade que, sem abdicar do intuito final de obtenção de prazer, ainda assim exige que a satisfação seja adiada, que se renuncie a várias possibilidades de contentamento e que (…) se tolere por algum tempo o desprazer”.
No texto em questão são evocados novos dualismos, o que conduziu à restruturação da teoria das pulsões. De entre os elementos com maior preponderância, destacam-se os seguintes: 1) a imagética de que a pulsão de autoconservação se relaciona com a fome do mesmo modo que a libido se relaciona com o amor. 2) a dicotomia entre os impulsos de vida e os impulsos de morte. Com a teorização da pulsão de morte, a perceção de Freud acerca da natureza da sexualidade modifica-se, deixando esta de se apresentar como um princípio desordenador; pelo contrário, quando aglutinada ao conceito de Eros, a sexualidade adquire agora uma dimensão ordenadora dentro do psiquismo. O neurologista austríaco passa, então, a interpretar Eros como um elemento conjuntivo. Por sua vez, Thanatos surge como contra-pólo de Eros e representa um elemento disjuntivo. Em suma, Eros corresponde à pulsão de vida e tem como objetivo a preservação através da síntese de unidades. Antagonicamente, Thanatos........© Observador
