“O Brutalista” e a metafisicidade da arte
Produzido ao longo de mais de sete anos, sob a orientação diretiva de Brady Corbet, “O Brutalista” apresenta-se na 97.ª edição dos Óscares como um sério candidato à conquista das estatuetas mais cobiçadas. Os três Globos de Ouro que arrecadou, nas categorias de melhor filme dramático, melhor realização e melhor ator principal, juntamente com os quatro prémios BAFTA, permitem-nos esboçar este prognóstico com alguma segurança. Com a devida concisão, procuraremos enquadrar os pressupostos basilares desta película cinematográfica, procedendo, de seguida, a uma análise preambular do personagem central e, por maioria de razão, a uma avaliação do real significado da sua arquitetura.
Antes de nos debruçarmos sobre as sinuosidades do argumento, justifica-se o enaltecimento prévio da prestação de Adrien Brody. Não será desajustado asseverar que estamos perante a melhor performance do ator desde 2002, ano em que protagonizou um dos filmes mais meritórios e impactantes do século — “O Pianista”, de Roman Polanski —, encarnando escrupulosamente o compositor clássico Wladyslaw Szpilman. Note-se, que existe uma semelhança indelével entre este último e László Tóth, o personagem a que o ator dá vida na mais recente produção de Corbet: ambos experienciaram a tenebrosidade do Holocausto. Trata-se de uma curiosa coincidência que deve, porém, ser destacada na medida em que Adrien Brody pertence a uma família de origem judaica, facto que o próprio ator afirmou ter sido determinante no processo de construção dos personagens em causa. Nesse sentido, é sensato presumir que a sua proximidade ao judaísmo deteve um peso considerável no tocante à profundidade interpretativa que alcançou em ambos os papéis. Na sequência deste pequeno parêntesis, centremos agora a nossa atenção na obra “O Brutalista”.
Como é habitual em produções cinematográficas desta natureza, o contexto epocal em que se desenrolam os acontecimentos revela-se vital para uma compreensão menos exígua das diversas dimensões que perfazem o fundamento do filme. No que diz respeito ao enquadramento histórico, deve salientar-se, em primeiro lugar, que a narrativa tem início num período volátil em que se efetiva uma total restruturação do ponto........
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