Lobos-terríveis e terrível divulgação de ciência
Fui nos últimos dias inundado de uma certa melancolia ao verificar em praticamente todos os jornais nacionais a divulgação não apenas de uma imprecisão científica mas também, a meu ver, de uma fabricação de marketing. Refiro-me aos títulos relativos à “desextinção” do lobo-terrível, extinto há cerca de 10.000 anos, pela empresa norte-americana Colossal Biosciences.
Os três cachorrinhos que a Colossal obteve são adoráveis, nisso tenho dificuldade em discordar, e o nome comum “terrível” parece ficar-lhes tremendamente desajustado (como aliás uma página de notícias fez questão de mencionar). Ainda assim, há uma coisa que aqueles cachorros definitivamente não são: lobos-terríveis.
Permita-me que explique!
A Colossal é uma empresa com diversos projetos relacionados com a utilização da manipulação genética na conservação da biodiversidade e na “desextinção”. Um dos seus atuais projetos é relativo a reviver o lobo-terrível, que daqui em diante passarei a tratar pelo seu nome científico Aenocyon dirus. O trabalho da Colossal começou a partir dos resultados de uma equipa internacional que identificou duas amostras (um dente e um crânio) com DNA utilizável. Nem todas as amostras ou vestígios que chegam aos dias de hoje permitem extrair DNA de A. dirus, porque esta molécula sensível degrada-se ao longo do tempo. A partir daqui, segundo a empresa,........
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