Tratar a memória da emigração: uma urgência histórica
Portugal deve muito aos seus emigrantes. Ao longo de mais de um século, foram milhões os que partiram, empurrados por dificuldades económicas, perseguição política ou falta de oportunidades. Em troca, enviaram remessas, criaram redes comerciais, sustentaram famílias e até ajudaram a legitimar internacionalmente o país em tempos de isolamento. Ainda assim, a memória desta emigração continua descurada.
Há milhares de documentos que testemunham essa experiência: registos de embarque, autorizações de saída, pareceres políticos, relatórios consulares, correspondência de associações no estrangeiro, imagens, listas de passageiros, processos de heranças ou de expulsões. São peças de um enorme património arquivístico que permanece, em larga medida, por tratar, digitalizar e disponibilizar.
Não estamos perante um problema técnico, mas sim perante um imperativo histórico.
Tive a oportunidade de conhecer esta realidade de forma direta, enquanto assessor na Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. Percebi o potencial informativo e científico da documentação existente, e confrontei-me com a ausência de uma política nacional para o seu tratamento.
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