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Tudo Bons Rapazes: o retorno do Grande Chefe

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15.04.2025

Uma vez, em trabalho de campo em Timor-Leste como antropólogo, um colega meu, professor universitário holandês, de origem indonésia, ia ser naturalizado timorense num ritual de instituição sendo-lhe dado um nome de um clã de adopção. A sua família directa tinha origem numa pequena ilha indonésia muito próxima de Timor mas a linhagem de facto tinha presença em ambas as ilhas que eram de países diferentes. Eu gostava de participar no ritual, por questões científicas, mas o problema é que ele era restrito, eu nada tinha a ver com o mesmo e não via em que papel poderia ser incluído. Colocada a questão a um dos velhos timorenses que organizava o ritual, ele disse simplesmente que eu era português e o meu colega era holandês, logo éramos irmãos europeus. Afinal, claro que eu poderia participar como irmão do holandês de origem indonésia e que, de facto, também era timorense! Esta estória possibilita uma rica e complexa análise sobre a relação entre linhagens tradicionais, nações, fronteiras entre Estados e globalização.

Um dos (vários) sentidos desta estória é que as classificações antropológicas se tornaram função da globalização e de uma certa homogeneização cultural que se reflete na forma como as pessoas percebem o mundo que as rodeia. A classificação das grandes diferenças no mundo por um cidadão moderno (a cognição antropológica) tem diminuído para um número limitado de “linhagens transnacionais”, umas decorrentes de países-região outras de regiões internacionais. Ou seja, as divisões entre diferentes povos começam a ser percebidas, muitas vezes, de maneira mais simplificada, com categorias amplas e superficiais como “Chineses”, “Europeus”, “Russos”, “Africanos”, “Americanos”, “Indianos”, “Asiáticos”, entre outras. O Planeta-aldeia possibilita que possamos entendê-lo em função de não mais do que uma dúzia de diferenças (esse mapa cognitivo é um bom trabalho antropológico que os professores de vários níveis de ensino podem fazer com os seus alunos) e se as linhagens transnacionais podem servir para considerar como é fácil percebermo-nos como irmãos se quisermos (como no caso da estória com a qual comecei o texto), também faz emergir a lógica darwinista social fratricida de sempre: ou seja, indivíduos interessados em comandar essas linhagens transnacionais de forma a que, se possível, uma única domine a Planeta-aldeia. Os colegas de........

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