menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Bárbara e o barbarismo. O fim da parábola

9 1
09.06.2025

É provável que desejemos ainda e sempre o sentido e procuremos ainda estórias nesse desejo. E, no entanto, quantas mais estórias vemos menos sentido encontramos ainda que a dopamina nos crie a pulsão para procurar mais estórias. O fim da parábola é o fim da História e do Comum. O que é a História e o Estado e as suas instituições senão estórias tão falsas quanto todas as demais? Tudo se constrói no aqui e agora de um vácuo de alzheimer e narcisismo. E em todo o lado esse fim da parábola, qual monstro, é alimentado por parábolas do fim.

1. Tanto faz

Bárbara era uma estudante de licenciatura de Gestão Pública numa Escola de ‘Educação Superior’, como o ministro Fernando Alexandre quer que agora se chame – o que quer que isso seja! Tinha uma Unidade Curricular no segundo ano de ‘Deontologia e Boas Práticas na Administração’, mas trabalhava, o horário das aulas não lhe dava jeito e, de facto, achou que não precisava de ir às aulas. Também achou que não seria necessário perder tempo a ler os recursos que a professora colocou no moodle (a plataforma usada para os textos, os slides, os vídeos e tudo o mais que o estudante deve usar). Uma colega que foi às aulas emprestou-lhe os ‘apontamentos’ e foi por eles que ela estudou. Era a lógica do “tanto faz”– tinha resultado várias outras vezes.

Bárbara não conhecia a professora e foi só no dia do exame que a viu pela primeira vez. Lá fez o exame e saiu da sala com a ideia de que ‘a coisa’ estava feita. Nem pensou mais no caso. Assim, quando saíram as avaliações teve uma surpresa. Tinha tido 6, numa escala de 0 a 20! Bárbara ficou a olhar para a nota. Não podia acreditar. De imediato mandou um email à professora Sofia a perguntar quando podia consultar o exame.

Sofia era uma professora que tinha fama de “desabrida”. Num país de brandos costumes e em que falar alto e criticar quem manda sempre foi um problema, ela não era uma diplomata. Falava alto e tinha uma posição crítica em relação a demasiadas coisas. Já tinha sido sindicalista, mas tinha desistido. Era uma mulher de 60 anos que tinha nascido em África e que considerava Portugal, desde que regressara e desde que tinha consciência de si, um país atrasado e incapaz de se reformar. Quanto ao ensino estava, como muitos, desejosa da reforma que demorava. Já tinha até usado o simulador para ver quanto tempo lhe faltava. Normalmente, em cinquenta ou mais alunos que faziam um exame e com uma percentagem de avaliações negativas bastante alta, Sofia não tinha mais do que três ou quatro (no melhor dos casos) estudantes interessados na chamada ‘Consulta de Prova’. No entanto, no mesmo dia que lançou as avaliações noutra plataforma digital, recebeu um email de uma estudante a perguntar quando seria a consulta de prova: era a Bárbara. Não se admirou: às vezes isso acontecia. Um ou outro aluno era mais interessado e solicitava a consulta. Assim, Sofia colocou no moodle uma data para a consulta de prova, uma obrigação dos professores em que o exame é devolvido corrigido ao estudante para que tomem consciência dos seus erros e procurem melhorar.

2. Isto resolve-se de outra........

© Observador