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Recuperar a moralidade

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10.06.2025

É, provavelmente, um dos livros mais comoventes deste novo século. O historiador britânico Tony Judt foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) em setembro de 2008. Ao jornalista Ed Pilkington, Judt descreveu-se como um homem saudável e desportista de 61 anos, que “sentia uma ligeira falta de ar ao subir as colinas e dava por si a carregar nas teclas erradas quando escrevia, nada mais”. Faleceu em agosto de 2010.

A doença avançou com velocidade e Judt perdeu rapidamente a capacidade de escrever sozinho e, mais tarde, de falar: “Nesta altura, já estamos quase quadriplégicos e condenados a longas horas de silenciosa imobilidade, estejamos ou não na presença de terceiros.” Foi neste momento que Judt recorreu aos “artifícios mnemónicos que os primeiros pensadores e viajantes modernos usavam para guardar e relembrar pormenores e descrições” e escreveu O chalet da memória.

Os vinte e cinco textos que compõem o livro são uma viagem pela sua vida e, acima de tudo, pelo século XX na Europa e pelas inúmeras transformações que ocorreram no Ocidente ao longo das últimas décadas, como o texto sobre as bedders ilustra. As bedders que Judt encontrou quando chegou a Cambridge eram uma espécie de criadas a quem cabia manter os quartos em ordem – segundo o pressuposto de que os jovens rapazes estudantes seriam incapazes de desempenhar essas tarefas em resultado da sua (elevada) condição social.

Nos anos de 1960, a instituição das bedders já estava em tensão com o espírito igualitário dos tempos, e Judt assistiu à grande mudança que ocorreu nos dez anos seguintes quando se tornou professor e lhe coube fazer a mediação entre um grupo de........

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