O ataque ao mérito (3)
Em Outliers: a história do sucesso, o jornalista Malcolm Gladwell coloca-nos perante um debate que continua a ocupar muitos investigadores: o talento é inato ou adquirido? O mesmo é perguntar: pode qualquer um de nós ambicionar, com as condições sociais certas e os estímulos necessários, a ser referido por Martim Sousa Tavares num dos episódios do Encontro com a Beleza? Ou algumas pessoas nascem com talentos naturais, que, se devidamente desenvolvidos, permitem tornar-se referências na sua área?
Como em quase tudo na vida, a resposta certa encontra-se no meio: existem talentos inatos, que tornam certas pessoas mais capazes de fazer bem certas coisas, mas as condições sociais e ambientais condicionam as suas possibilidades de florescimento.
Para complicar, não é evidente o que são condições favoráveis: podemos achar que ter um ambiente familiar estimulante e com recursos económicos é mais favorável ao desenvolvimento de talentos. E depois aparece-nos Cristiano Ronaldo: teria ele tornado o que se tornou sem as adversidades que marcaram a sua infância? E é porque a resposta não é incontestável que existe aquela coisa que nos encanta tanto e a que chamamos política.
Há, contudo, um fator que merece poucas dúvidas e discussões: para que o talento floresça são necessárias muitas horas de trabalho e esforço. Mais concretamente, dez mil horas. Como diz o neurologista Daniel Levitin, citado por Gladwell:
“Estudo atrás de estudo, sobre compositores, basquetebolistas, escritores de ficção, patinadores do gelo, pianistas de concerto, xadrezistas,........© Observador
