O ataque ao mérito (1)
Será possível compreender os nossos tempos sem refletir sobre a crise de sentido que marca o mundo ocidental? John Vervaeke tem popularizado esta expressão (“meaning crisis”) e, como muitos autores, defende o regresso aos grandes pensadores do passado e à tradição dos grandes livros para solucionar a crise: é neles que encontramos a sabedoria necessária para reintroduzir sentido nas nossas vidas.
As grandes obras da cultura ocidental são úteis porque nelas encontramos a maior sabedoria de todas: aquela que nos permite compreender o homem, reconhecer a sua antropologia e a sua natureza e reintroduzir, a partir desse conhecimento, as ferramentas que permitem recuperar o sentido.
Vemos essa sabedoria antropológica nos textos homéricos, naturalmente, com uma versão do mundo em que deuses, heróis e homens se debatem pelos grandes feitos. Mas nunca é de mais recordar que o grande livro sobre a natureza humana é o Novo Testamento, capaz de nos mostrar, como nenhum outro, as paixões humanas mais fortes, bem como as nossas maiores fragilidades.
É o que acontece na 2.ª Carta aos Tessalonicenses, quando Paulo se vê na necessidade de exortar contra a ociosidade:
“constou-nos que alguns vivem no meio de vós desordenadamente, não se ocupando de nada mas vagueando preocupados. A estes tais ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo a que ganhem o pão que comem, com um trabalho tranquilo.” (2 Ts 3, 11-12)
Tomados por uma “euforia apocalíptica”, alguns teriam deixado de trabalhar. E há, de facto, muito de humano nesta euforia: afinal, se o fim está próximo, para quê trabalhar? Se os tempos se revelam perturbados e temerosos, para quê o esforço? Mas Paulo apela a que sigam o seu exemplo:
“vós próprios sabeis como deveis imitar-nos, pois não........© Observador
