As mulheres mudam a política? (2)
O argumento biológico que apresentamos na primeira parte do texto deve ser usado com cuidado, pois não é fácil distinguir se o que dizemos acerca de homens e mulheres se deve à sua biologia ou resulta do processo de socialização. Nem tudo é biologia, e não é por acaso que a cunhagem do termo “género” teve um impacto tão relevante na forma como pensamos. A distinção entre “sexo” e “género” permite separar comportamentos que são determinados biologicamente de comportamentos que são resultado do processo de socialização e que, nessa medida, podem não só variar entre culturas, como também ser modificados dentro de cada cultura.
A diferença entre a dimensão natural e a dimensão social ficou especialmente evidente ao longo do século XX por termos assistido a profundas mudanças sociais e materiais. Por um lado, as duas guerras mundiais conduziram à entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, desempenhando tarefas que cabiam aos homens; por outro lado, os desenvolvimentos tecnológicos tornaram algumas profissões menos dependentes de força física e levaram ao crescimento do emprego no setor terciário, ampliando a participação laboral das mulheres.
A distinção entre sexo e género tornou-se aí evidente: parte substancial da rigidez das sociedades tradicionais no que diz respeito aos papéis sociais de homens e mulheres dissolveu-se e tornou-se mais claro o que era convencional e o que era natural. O problema é que se gerou uma tal obsessão com a igualdade que se absolutizou o género, levando à desconsideração da dimensão natural. Este é um aspeto fundamental para compreender a evolução da teoria e da prática políticas nas........
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