A encruzilhada da Igreja
É provavelmente um dos livros mais marcantes da última década. Em Domínio: como o Cristianismo transformou o pensamento Ocidental, o historiador Tom Holland explora “a maior história de sempre”, com uma tese que foi explicando nas muitas entrevistas e palestras que tem dado: o Cristianismo é a água em que nadamos no Ocidente. Com esta imagem, Holland quer dizer que o facto de estarmos de tal modo habituados a nadar nesta água nos faz esquecer de que este é o nosso aquário: o modo como vemos o mundo e os princípios que valorizamos decorrem de uma forma de pensar totalmente revolucionária que começou com a crucificação de Cristo e se desenvolveu ao longo de séculos, por toda a Idade Média.
Apesar de ter resultado de uma confluência de fatores históricos e filosóficos, que nos remetem para origens judaicas, gregas e romanas, o Cristianismo assenta numa ideia que representa uma rutura radical com a Antiguidade. Essa radicalidade não se encontra no facto de um homem se afirmar filho de Deus ou de ter subido aos céus após a morte (uma imagem que podemos encontrar nas histórias de Héracles ou Júlio César). A sua radicalidade encontra-se, antes, no facto de o Filho de Deus ter sofrido a pior forma de morte para os intelectuais romanos, e que Roma consagrava aos escravos como forma de humilhação pública. O próprio Paulo tem dificuldade nas suas cartas em referir-se à crucificação, uma forma de morte que parecia – pelo padrão dos Antigos – indigna para um Filho de Deus.
Holland considera que estamos hoje insensibilizados em relação à cruz. Que nos habituamos de tal forma a vê-la que nos esquecemos do sofrimento real que implicava e, acima de tudo, do que ela nos diz sobre a mensagem cristã: a de que “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.
É esta ideia revolucionária que vai marcar os séculos seguintes: a ideia de que Deus está do lado dos fracos, dos pobres, dos humilhados e de que, chamando-os a si, lhes oferece uma dignidade universal. Somos todos feitos à Sua imagem e, por isso, temos e merecemos a mesma dignidade. O Cristianismo inverteu, assim, a lógica da força, como Nietzsche bem notou, e é nessa medida que, para Holland, a grande oposição ao Cristianismo seja o nacional-socialismo, que, valorizando a força, o super-homem e o poder, é verdadeiramente anticristão.
É interessante notar como esta observação permite dissolver um equívoco recorrente no espaço público: tendemos a interpretar o facto de o nazismo gerar maior aversão pública do que o comunismo como um viés de esquerda – das elites, das classes políticos, dos jornalistas. Mas, na verdade, essa aversão deve ser entendida como um viés cristão: é porque somos moldados pelo Cristianismo que temos maior........





















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