Publicado em 2010, o livro Os Superficiais, do jornalista Nicholas Carr, apresenta- se como um texto seminal para compreender uma das grandes transformações dos nossos tempos. A incursão é, acima de tudo, científica: Carr conduz-nos aos meandros da neuroplasticidade para mostrar como o cérebro se modifica, criando novos caminhos sinápticos, em reação a novas práticas, como as geradas por inovações tecnológicas.

O cérebro modifica-se e adapta-se à novidade – essa é, na verdade, a nossa grande vantagem evolutiva – e, por isso, grandes transformações tecnológicas, como o desenvolvimento da escrita, produzem transformações cerebrais e cognitivas profundas. A passagem que se deu, algures na Idade Média, da leitura em voz alta para a leitura silenciosa foi um momento igualmente marcante: Carr faz um argumento convincente sobre como a leitura silenciosa permite aprofundar a concentração e a criatividade, podendo estar, assim, na origem dos grandes desenvolvimentos científicos e intelectuais da modernidade. Os argumentos apresentados podiam ser cada vez mais complexos e geravam, por sua vez, criatividade e inovações ainda mais complexas nas cabeças dos leitores, numa lógica que se autoalimentava.

O cérebro, colocado em condição de sossego e concentração, torna-se uma máquina imparável de ideias, aprofundando continuamente o seu trabalho.

A Internet, por seu turno, é o contrário de tudo isto: os seus estímulos constantes quebram a concentração e a forma como é desenhada treina o cérebro para novos circuitos mentais mais superficiais: as sociedades ligadas à rede são, apesar de tanta informação, menos capazes de refletir profundamente e saltitam de ideia em ideia sem o tempo e a concentração necessários para compreender problemas e apontar soluções. Um cérebro sujeito a excesso de estímulos e de informação torna-se, paradoxalmente, menos capaz de trabalhar com tanto ruído. A carga cognitiva impede-nos de refletir e torna-nos sedentos de mais informação, embora nos limitemos a consumi-la de forma rápida e superficial.

As redes sociais, sobre as quais Carr não se debruça neste livro com 15 anos, vieram agravar esta condição de superficialidade, adicionando-lhe carga emotiva. A grande inovação aqui foi a introdução da lógica algorítmica no feed de........

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