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Anáfora e dualidade na poesia de Os Anjos

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21.06.2025

Começou, esta semana, o julgamento que opõe Os Anjos a Joana Marques. A dupla acusa a humorista de “descontextualizar” um vídeo onde aparecem a cantar. No entanto, entretidos em defender os cantores, muitos têm esquecido aquela que seria a justa reparação aos danos causados: não só contextualizar a dita performance, mas, antes de tudo, toda a obra poética de Os Anjos. É só pena que o exame nacional de português já tenha passado, pois creio que este seria um excelente subsídio.

De facto, aquilo que se destaca, à primeira vista, na estética da obra poética de Os Anjos é, por um lado, o uso inovador da anáfora, e, por outro, o retomar criativo da dualidade como traço da expressividade lírica. Como Proust, a dupla procura reviver o passado e fugir da solidão (“Eu quero voltar / Ao ponto de partida”, “Eu não quero mais estar só”, “Não quero escrever o fim desta canção”), e daí a pertinência do uso da repetição como forma de ênfase e como criação de musicalidade (“Perdoa se peço demais (…) Perdoa se me quero dar”, “Eu estou aqui, aqui p’ra te dizer / Eu estou aqui, aqui p’ra te adorar / Eu estou aqui, aqui p’ra te dizer”, “Ficarei mais perto do céu / Ficarei mais perto do mar”). Assim como Walt Whitman, em Leaves of Grass, Os Anjos pretendem hipnotizar o leitor, reafirmando um amor que não aceita o silêncio. O que, para as camadas mais jovens, acaba por ser um reforço positivo face à vivência obsessiva do........

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