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Os paradoxos da parábola do filho pródigo

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06.04.2025

Talvez a parábola mais significativa do Evangelho seja a referida por São Lucas e dita do filho pródigo (Lc 15, 11-32), mas que, com mais propriedade, se deveria chamar do pai misericordioso, porque é ele, na realidade, o verdadeiro protagonista.

Estas histórias, a que Jesus recorria com frequência e que correspondiam ao jeito rabínico de ensinar, tendem a sublinhar uma conclusão moral. Enquanto alegorias, não são susceptíveis de interpretação literal e, por isso, quando Jesus diz que é a videira (Jo 15, 1. 5), não se está a atribuir uma natureza vegetal.

Não obstante a sua aparente simplicidade, a parábola do filho pródigo é, no entanto, bastante paradoxal.

A primeira contradição aparente resulta da inexistência de um pecado inicial, pressuposto indispensável para que depois possa fazer sentido a conversão. O filho mais novo pede ao pai a sua parte na herança, mas, tendo o pai acedido ao seu pedido, foi com o que era legitimamente seu que se afastou da casa paterna (Lc 15, 11-13). O facto de ele se ter permitido uma vida pródiga e de ter delapidado os seus bens, eventualmente por inépcia, pode não constituir, por si só, um pecado ou falta moralmente relevante, se a acusação de ter recorrido a prazeres ilícitos, que lhe faz o irmão (Lc 15, 30), não corresponder à verdade. Mas, se não pecou, de que então se arrependeu depois?!

Na realidade, ao fazer esse pedido, é como se tivesse passado uma certidão de óbito ao pai pois, em teoria, só por sua morte poderia receber a sua parte na herança. Por outro lado, esta sua rebeldia manifesta o egoísmo de alguém que só pensa em si........

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