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A parábola (da mãe) do filho pródigo

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13.04.2025

A propósito da parábola do filho pródigo (Lc 15, 11-32), já aqui se fez notar que este texto parece expressar uma mentalidade vincadamente anti-feminina. Só São Lucas transcreve esta parábola, que apenas conhece protagonistas masculinos, pois não é referida nenhuma mulher. No entanto, o pai seria, ou teria sido, casado e os filhos teriam mãe e, eventualmente, irmãs, tias e primas.

Qual a razão desta omissão de qualquer intervenção, presença ou menção feminina?! Não será a mesma discriminatória e, nesse sentido, humilhante para as mulheres?! Tal ausência não reflectirá uma mentalidade machista, como se as mulheres não contassem e, por isso, não devessem ser referidas?! Não expressará menosprezo pela condição feminina, como se só a presença masculina fosse relevante?!

Pois bem, paradoxalmente, o que poderia parecer uma inaceitável manifestação de machismo é, como se verá, uma magnífica exaltação do génio feminino.

Que diz a parábola da reacção paterna ao ver, no horizonte, o filho rebelde? Que, “quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20). Não é preciso ser psicólogo para afirmar que nenhum homem procederia assim, por muito que quisesse ao filho regressado a casa, são e salvo. Ao vê-lo naquela triste situação, sentiria compaixão, mas seria muito improvável que corresse desenfreadamente até ele, pois uma tal atitude parece pôr em causa a gravidade paterna. Talvez o abraçasse e até beijasse, como é normal entre pais e filhos, mas não seria razoável que fosse ao extremo, quase caricato, de “lançar-se-lhe ao pescoço”, e muito menos de o cobrir de beijos! Tal comportamento desdiz do estatuto de pai ofendido e contradiz o que é próprio da conduta masculina que, não sendo menos afectiva, tende a manifestar-se de forma mais contida.

Note-se que Maria Madalena, quando descobre que está a falar com Cristo ressuscitado, trata-o com a deferência devida ao Senhor – “exclamou em hebraico: ‘Rabbuni!’, que quer dizer ‘Mestre!’” (Jo 20, 16) – o que prova a........

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