Pedro (Cabrita Reis), o Grande
No meio de um mundo do avesso, de um futuro que se deixa ultrapassar por si próprio em cada novo despertar, será que ainda vale a pena falarmos de arte e dos seus criadores? Respondo: vale!
E valendo, quais são os limites de um criador recriar uma outra obra? Depende da obra, do criador e do recriador. Se falarmos do que Pedro Cabrita Reis fez com um dos mais icónicos exemplos do design português, não só estamos em campo seguro para confirmar que é possível desafiar esses limites, como também percebemos ao primeiro olhar que elevou a cadeira portuguesa a um patamar icónico, em que um objeto de design utilitário se converte numa obra de arte. Isto mesmo fê-lo com o modelo de cadeira que faz parte das memórias de bom tempo passado numa esplanada por todos os portugueses. Transformou uma peça que, desde os anos 50 faz parte do nosso horizonte, criada originalmente por Gonçalo Rodrigues dos Santos e pelo Mestre Serafim. Este caso de revisitação de algo que ainda está presente nas nossas vidas tem, por isso mesmo, um impacto adicional, não só pelo nome de quem a recria, mas pela essência que podemos observar em cada um dos 25 exemplares únicos. Não é um NFT, não é uma qualquer expressão comum, não é uma série de múltiplos. São peças únicas, transformadas pelo olhar imenso do artista.
Não é à toa que, ao ver um exemplar, senti-me perpassado por uma energia telúrica, que me relembra a intensidade com que me ofereceu cada palavra da entrevista que me concedeu, que começou à chegada ao seu atelier e que partilho de........
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