Die alte Keizerstadt: apontamento sobre decadência europeia
Na passagem para o Século XX, Viena era ainda conhecida como “die alte Keiserstadt”, a velha cidade imperial. Depois de séculos como sede do trono mais poderoso da Europa, apesar de permanecer como a morada da prestigiada casa imperial dos Hapsburgo, a velha cidade vivia com cada pé em dois tempos muito distintos: no passado, ainda se vendo como um alicerce da civilização europeia e legítima herdeira de Roma; no futuro, perante novos ideais e adversários, pressentindo um iminente desmoronar do seu mundo conhecido.
Após Napoleão e, mais tarde, as revoluções nacionalistas de 1848, Viena viu-se progressivamente incapaz de manter a ordem na qual havia reinado. A pouco e pouco, os reveses sucediam-se e, na sua área de influência, em especial na Alemanha, na Itália e nos Balcãs, uma nova Europa começava a formar-se. A perda sucessiva das províncias italianas após 59, a unificação alemã sob a égide de Bismarck em 71, o mesmo ano em que se completa o Risorgimento italiano, configuravam evidências empíricas dessa decadência política. O pêndulo do mundo afastava-se da velha cidade imperial e, mais importante, toda a gente o sabia, desde logo os seus habitantes.
A reacção social foi, como habitual na espécie humana, a negação. Centro cultural de excelência, berço da ópera e expoente máximo do teatro, a Viena continuavam a acorrer o dinheiro, o fausto e o talento. Uma mescla de intelectuais e artistas, desde génios musicais, como Mahler e Brahms, a uma multitude de escritores, pintores, arquitectos, juntava-se pelos cafés, vivendo o declínio do velho império num ambiente de requinte, alta cultura e profunda alienação. Um exemplo paradigmático ocorreu em 1873, com a exposição mundial de Viena. Pretendendo afirmar o triunfo cultural e civilizacional austríaco, esse entusiasmo traduziu-se, primeiro, num boom urbanístico que edificou toda uma nova parte da cidade ao longo do Ringstrasse com o intento de ofuscar a moderna Paris construída ao estilo de Haussman e, depois, num outro boom, este financeiro, que decorreu das grandes expectativas geradas. Infelizmente, ao invés de afastar prenúncios de tragédia, a realidade acabou confirmando-os: primeiro, com a Sexta-Feira negra de 9 de Maio de 1873, meros nove dias após a abertura do certame, que certificou o colapso da Bolsa de Viena, a falência abrupta de 125 bancos e enviou ondas de choque pela Europa inteira, gerando uma depressão económica que duraria anos; depois, com uma oportuníssima epidemia de cólera que, ao longo da exposição, mataria cerca de 3,000 pessoas.
Em lento, mas inexorável declínio, a catástrofe da queda foi então interiorizada como natural, enterrando-se, paradoxalmente, os seus efeitos de longo prazo na negação: por um lado, intuíam-se como inevitáveis; pelo outro, desvalorizavam-se como inacreditáveis. O declínio e a tragédia eram assim diluídos numa inércia burocrática que oscilava entre a rotina e o absurdo na medida em que se tornava evidente o esforço de negação a cada sucessão de crises. Estas, quer na realidade política e geo-estratégica internacional, quer na própria identidade social, bem como nos hábitos entretanto alterados, nomeadamente na novel obsessão com a “repressão” e “libertação” sexuais, acabaram incorporadas numa espécie de “nova normalidade”. Ao lado, acompanhando, triunfava o hedonismo ao som da nova grande moda que comandaria os salões de baile europeus — a valsa vienense, um género que, emergido dos bairros mais populares, conquistou a classe alta de Viena e pôs a Europa, por uma última vez, a dançar ao seu ritmo. Nesse estertor final, enquanto o velho mundo ruía, Viena entretinha-se com a opereta, a valsa e os grande bailes de máscaras.
No entanto, o manto negro da tragédia ia envolvendo todos, em crescendo, desde logo a própria família imperial e o longuíssimo reinado de Francisco José. Primeiro, em 1889, com o pacto de homicídio-suicídio do seu único filho, e herdeiro, Rudolfo, em conluio com a namorada. Depois, em 1898, com o assassinato da Imperatriz Isabel, mais conhecida como Sissi, considerada a mais bela mulher do mundo, na realidade, uma perturbada narcisista, anoréxica, melancólica, fascinada pela doença mental e o sanatório,........





















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