menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Terra da fraternidade

10 1
09.04.2024

Há pouco mais de uma semana, a 31 de Março, celebraram-se os 50 anos da última ovação do Estado Novo. Daqui a pouco mais de duas semanas, estaremos a celebrar os 50 anos da revolução que pôs termo ao regime. Em Depoimento, Marcello Caetano escreveria: «Quando o alto-falante anunciou que eu me achava no camarote principal, a assistência, calculada em 80.000 espectadores, como que movida por mola oculta levantou-se a tributar-me quente e demorada ovação que a TV transmitiu a todo o País. E note que, tendo saído do estádio quinze minutos antes do fim do desafio, não houve ninguém nas duas longas filas de pessoas que, como eu, procuravam evitar a confusão do final e por entre as quais passei que não me desse palmas – o que às pessoas que me acompanhavam pareceu ainda mais expressivo que a manifestação colectiva. E as informações que chegavam ao governo também garantiam sossego geral e apoio ao regime».

É talvez a história mais mal guardada das últimas décadas: como é que um país que estava à beira de uma revolução apresentava, nem um mês antes de essa revolução se dar, um estádio com 80 mil pessoas ovacionando o chefe de uma ditadura? A narrativa intelectual e política das últimas décadas nunca soube responder a esta pergunta de forma convincente. António Araújo, pelo contrário, deu-nos as pistas necessárias para chegar a melhores conclusões que não as do romantismo da intelectualidade marxista instalada. Nesta entrevista ao Público, em 2018, elucidava Araújo: «A permanência de Salazar não se explica pelo insucesso dos oposicionismos, que eram minoritários. Há muitos estudos sobre a oposição, mas não há ainda um sobre como é que Salazar administrava uma coisa fundamental que era a cunha, como é que ele dominava o país. (…) É muito mais importante estudar como é que Salazar dominava os conformistas do que como é que esmagava os oposicionistas. Porque isso está feito no essencial e porque o grosso da sociedade portuguesa vivia num medo difuso. O português médio não se metia em aventuras oposicionistas e muito menos bombistas. O que é que explica o conformismo instalado?........

© Observador


Get it on Google Play