menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Os comuns e as elites

11 8
10.09.2025

Nasceu a 1 de Março de 1918, praticamente no fim da Primeira Guerra Mundial, cumpriu serviço militar nos primeiros anos do Estado Novo, com a Guerra Civil de Espanha ao lado de casa e cheiro a Segunda Guerra Mundial no ar. Casou uma vez, teve uma filha, enviuvou. Casou novamente, teve quatro filhos, incluindo gémeos. Perdeu pais e avós. Perdeu a primeira mulher. Perdeu um dos gémeos. Ficou viúvo novamente um mês antes da queda do Muro de Berlim. Acabou por morrer em 1997, onze dias depois de completar 79 anos, com a filha mais velha já muito doente, um mês depois de ser clonada a ovelha Dolly. Lavrador a vida inteira, arrendatário, proprietário, bon vivant rural. Para mim, quando criança, um matador de moscas exímio, um estupendo construtor de miniaturas de carros de bois em madeira, um velhote barrigudo que andava de cajado e a quem faziam a barba. Não quis mais para si do que tinha, pouco fez para não ter menos do que tinha, orgulhou-se dos pequenos sucessos da prole. Não se inquietou com a ditadura ou com a revolução, nem se encantou de democracia, que nenhum regime ou sistema o inebriava. Encolheu os ombros à adesão às Comunidades, longe que estava, em distância e em pensamento, da “civilização”. Não quis saber do Muro, do comunismo, do liberalismo, da democracia, do desenvolvimento. Tinha um rádio a pilhas, aborrecia-se com a televisão e via nos relatos do futebol um entusiasmo injustificado. Tinha uma história de eleição, que lia várias vezes no seu livro da........

© Observador