Nada temam
No último texto que Francisco Lucas Pires viu publicado em vida, a 13 de Maio de 1998, no Expresso, com o título ‘A nova ordem do euro’, o então vice-presidente do Parlamento Europeu anunciava uma «nova encruzilhada» que se adivinhava na então anunciada «planície de céu estrelado» que se vivia na Europa, sugerindo a urgência de dar início à discussão sobre «que Europa» se deveria construir dali em diante.
Lucas Pires indicava que, por meio de referendo, se deviam tornar bem legíveis as respostas sobre o que fazer numa situação de exposição e competitividade imposta pela moeda única, e sobre qual seria o modelo de Europa em que, no pós-alargamento, Portugal podia fazer valer os seus interesses e a sua identidade, não descurando as reformas estruturais que o país e a União teriam de fazer. Esperava Lucas Pires que do debate do eventual referendo se tornasse claro que «a conquista da moeda única não pode continuar a ser um alibi para a falta das reformas estruturais necessárias» e que se clarificasse acerca de qual seria o melhor interesse português numa Europa menos intergovernamental e sectorial, «mais democrática e mais política» – e «sem a qual não só a coesão económica e social se poderia romper, como a própria moeda única e o BCE se tornariam os bodes expiatórios de todas as crises.»
Assim sucedeu. Vinte anos depois, não seriam raros os políticos, intelectuais e demais ocupantes do espaço público-mediático a apontar ao BCE e à moeda única as........
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