Montenegro está a imitar o plano de Sá Carneiro
Esta semana, num dos momentos de maior tensão da sua vida política, Luís Montenegro fez uma citação sem fazer uma citação: “Saber estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão e da renúncia, pôr a sinceridade das posições acima dos interesses pessoais — isto é a política que vale a pena.” Foi assim, com drama, que o primeiro-ministro acabou o discurso que fez na abertura do debate sobre a moção de censura do PCP. Não explicou que a frase não era dele, mas, na verdade, também não era preciso. Todos os laranjinhas a conhecem, palavra por palavra, como se fosse um mantra. A frase, que poderia estar escrita em pedra na sede do PSD, foi originalmente escrita, claro, por Francisco Sá Carneiro.
Desde Camarate, todos os presidentes do partido acharam, de uma forma ou de outra, que eram um bocadinho Sá Carneiro. Mas Luís Montenegro é um caso diferente. Ele não se limitou a procurar inspiração retórica para terminar um discurso decisivo — está a imitar, ao detalhe e ao milímetro, o plano executado por Sá Carneiro quando esteve envolvido num sarilho semelhante ao que vai agora levar à queda do governo.
A polémica que fragilizou Sá Carneiro tem, de facto, muitas parecenças com a atual: envolveu acusações de recebimento indevido de dinheiro, envolveu a família próxima do primeiro-ministro, envolveu pedidos sucessivos de esclarecimento, envolveu uma declaração com todos os membros do governo e envolveu uma comissão parlamentar de inquérito lançada pelo PS.
O caso, que ficou conhecido como “Watergate português”, durou anos. Tudo começou antes do 25 de Abril, quando Francisco Sá Carneiro e o irmão Ricardo pediram, legitimamente, vários empréstimos ao Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa para comprarem ações. Até que, quinze dias depois da revolução, a Bolsa fechou e as autoridades suspenderam todas as transações de títulos. Nesse momento, Francisco Sá Carneiro tinha uma dívida........
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