Joana Marques e os julgamentos de faz-de-conta
Não se pode dizer, sem cair num manifesto exagero, que Mark Twain fosse a Joana Marques do seu tempo. Afinal, ele é considerado, de forma esmagadoramente consensual, “o maior humorista que os Estados Unidos alguma vez produziram”. Mas, apesar de haver ainda algumas compreensíveis diferenças de impacto e estatuto, podemos concordar que ambos convergem nas opções laborais. Esta semana, a juíza do caso Anjos explicou a uma testemunha: “O senhor tem uma profissão séria. A Joana tem uma profissão diferente da sua.” Da mesma forma, Mark Twain também tinha uma “profissão diferente” das “profissões sérias”.
Há uma outra semelhança entre Mark Twain e Joana Marques. É que o humorista americano, que viveu entre 1835 e 1910, também foi levado a julgamento por causa daquilo que escreveu — no caso dele, acusado de ser “o maior mentiroso do mundo”. Um artigo do New York Times sobre o caso descreveu que Twain entrou na sala de audiências algemado e “com o ar de ter estado envolvido numa luta intensa antes de ser detido”.
O julgamento de Mark Twain teve muitas parecenças com o espectáculo a que assistimos esta semana no Tribunal Cível de Lisboa. Por exemplo: as várias testemunhas intimadas a depor no caso do humorista americano “falaram sobre tudo menos sobre o processo”. Com Joana Marques, aconteceu o mesmo. Ouvimos uma testemunha chamada pelos seus conhecimentos técnicos dizer que pretendia antes falar “como Sérgio, como pai, e não como diretor técnico”. Outra revelou que “não gosta deste tipo de humor” — como se o gosto........
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