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Maquiavel na Sala Oval

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06.03.2025

O uso da designação Realpolitik tornou-se popular quando utilizada por Kissinger, e entendida como uma estratégia de segurança e negociação internacional baseada na defesa do interesse nacional dos Estados Unidos e na procura da maximização do seu poder militar e económico. Nela tudo são transações. Não existem ideais ou valores, nem gratidão ou memória, mas apenas o confronto entre interesses próprios. Li há pouco tempo que a palavra Realpolitik foi cunhada por Ludwig von Rochau em 1853, mas a ideia já estava magnificamente expressa no Príncipe de Nicolau Maquiavel.

Kissinger foi um grande pensador da política internacional e os seus escritos são de uma enorme inteligência. Contudo, a sua ação política nunca esteve ao nível da profundidade ideológica, e foi sempre entremeada por controvérsia, exatamente pelo facto de ser guiada apenas pela primazia do interesse norte-americano, com relativização das consequências para outros. Um dos momentos pouco felizes, e que muito diz a Portugal, foi quando deu luz verde à invasão de Timor porque entendia a Indonésia como um aliado prioritário.

Se recordarmos a voz de Henry Kissinger ao fim dos primeiros cem dias da invasão, lembrar-nos-emos que defendeu a necessidade de um acordo rápido, onde a Ucrânia deveria entregar uma parte do seu território, e assumir-se como uma região-tampão encostada à frente de expansão russa. Os meses seguintes, mercê de uma grande coragem dos ucranianos e dos seus dirigentes, viram o falhanço do avanço fulminante anunciado por Putin para chegar a Kiev em dois dias. Assistiram ao apogeu do grupo paramilitar Wagner na frente de batalha, e ao colapso com a morte de Yevgeny Prigozhin num controverso acidente........

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