A irrelevância no meio do caos
As notícias sucedem-se em catadupa sem lógica aparente, e os discursos afirmam uma coisa hoje e o contrário amanhã. É muito difícil interpretar a realidade que nos cerca, perceber o que move cada um dos atores políticos globais, em particular os que reagem à globalização ao mesmo tempo que a aprofundam. Nada é o que parece.
Proponho que se olhe para as ações da administração americana de uma forma diferente do habitual. Já que filtramos sempre o que nos dizem, quer queiramos quer não, podemos, por uma vez, não ouvir a linguagem pouco polida, a ausência do verniz que normalmente suaviza a ação diplomática, a falta de bom senso na ciência, na medicina ou no suporte social, ou os companheiros de estrada especialistas em teorias de conspiração. Se o fizermos, veremos à nossa frente um país que ainda transporta consigo uma enorme ambição e uma quase ilimitada capacidade de inovação, mas que já não pode decidir tudo sozinho. Que vê passar entre os dedos o controlo de uma boa parte das matérias-primas do mundo, que precisa de reequilibrar a sua balança comercial. E que para o fazer só encontrou o caminho de abandonar a responsabilidade moral para com o mundo que não consegue mais carregar, defender com “unhas e dentes” o acesso às matérias-primas e à energia, e destacar-se dos que ainda têm menos peso que ele, para defender o seu lugar e o seu quinhão na mesa das negociações globais.
A União Europeia tem uma posição política eticamente muito forte no que respeita a quase todos os problemas do mundo. Mas essa vantagem moral transforma-se numa desvantagem real sempre que a situação endurece, quando tem pela frente forças que não partilham os mesmos valores, ou se torna necessário que os fins justifiquem os meios, e seja preciso projetar força. É muito importante distinguir o bem do mal e a........
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