Quantos mais padres têm de se suicidar?
A morte do padre Matteo Balzano, que recentemente pôs termo à própria vida, é mais do que uma tragédia pessoal. É um grito angustiado de alerta para a Igreja e para a sociedade. Quantos mais padres terão de morrer para que nos questionemos a sério sobre a sua saúde mental? Quantos mais suicídios, quantas mais vidas destruídas pelo sofrimento, escondido atrás de uma batina, serão necessários para que se olhe de frente para este problema? Quantos mais terão de viver as suas dores no silêncio, ou ver o seu trabalho e a sua pessoa julgados nas redes sociais, sem qualquer espécie de pudor — ou pior ainda, sem a misericórdia que devia ser uma constante no olhar dos cristãos?
O suicídio, seja ele imediato ou disfarçado de autodestruição lenta, através do álcool, das drogas, da compulsão alimentar ou do abuso de medicamentos, ou somente de uma tristeza sem tamanho, tem vindo a crescer entre o clero europeu e latino-americano. Não é de hoje que os padres vivem sob pressão constante: exigências pastorais intermináveis, reuniões, jornadas, atividades e mais atividades. Tudo parece girar à volta do fazer, do organizar, do planear. De um gerir, tantas vezes, de coisas que não se centram diretamente nas suas tarefas habituais ou características pessoais. Porque os padres não saem de uma fábrica, padronizados, todos prontos a exercer as mesmas funções. E, pelo meio desse ativismo desenfreado, esquecemo-nos do essencial: a relação humana, o cuidado mútuo, a escuta verdadeira.
Os padres tornaram-se, muitas vezes, prisioneiros de um modelo de Igreja, no qual o sucesso se mede pelo número de fiéis na missa, pelo número de vocações no seminário, pela quantidade de eventos organizados. Não há espaço para a contemplação, para o silêncio, para a partilha honesta das alegrias e das dificuldades. Vive-se para responder a expectativas externas, para corresponder aos gostos e às esperanças de paroquianos (tantas vezes, eles mesmos, marcados pelas infelicidades e desequilíbrios provocados por expectativas pessoais e relacionais impossíveis de atingir) e superiores. Quem não encaixa no molde é criticado, comparado, julgado, empurrado para a solidão, sem olhar às consequências. Por todos os que o rodeiam e sejamos muito claros: isso implica os colegas, os paroquianos, a família…
Na minha opinião (e este é um artigo de opinião) este é sinal de um caminho de........
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