Sobre a poeira que não queremos levantar
A política atual vive um momento curioso. Os seus debates estão atualmente reduzidos a dicotomias simplistas entre “progressistas” e “conservadores”, poucos se dão conta de uma realidade mais profunda e desconcertante: no fundo, todos os atores políticos, independentemente do seu discurso ideológico, são conservadores de alguma forma. Esta afirmação, à primeira vista estranha, revela uma inescapável verdade da condição humana e da prática política: conservar é, em última instância, um instinto de sobrevivência. Quer se trate de preservar o poder, a ordem democráticas ou os próprios valores que fundamentam uma sociedade, o impulso conservador está presente.
Mas por que razão, aqueles que clamam por “progresso”ou “mudança”acabam por conservar algo? O que nos diz isso sobre a própria natureza da política?
1. O conservadorismo como impulso humano universal
Antes de ser uma ideologia, o conservadorismo é um traço antropológico. Todos nós, enquanto seres humanos, buscamos estabilidade. Conservamos memórias, tradições, rituais e vínculos afetivos porque isso nos dá identidade e estrutura. A cultura não é senão o resultado de sucessivas camadas de preservação. Hannah Arendt já alertava que a continuidade é o que permite que o mundo humano seja habitável. O caos........
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