One Big Beautiful Bill Act: a vitória do curto-prazo
A recente aprovação da One Big Beautiful Bill Act nos Estados Unidos representa mais do que um conjunto de opções orçamentais — é a consagração de uma visão do mundo. Sob o disfarce retórico de simplificação tributária e reforço da autoridade interna, esta lei opera uma inflexão ideológica decisiva na relação entre Estado, mercado e cidadão. O seu título, teatral apenas reforça o contraste entre a promessa de grandeza e a realidade de um projeto regressivo, tecnocrático e estruturalmente desigualitário.
O regresso da ortodoxia neoliberal
No coração da lei está a perpetuação dos cortes fiscais introduzidos em 2017, no auge da agenda trumpista. À época, essas medidas foram justificadas com o habitual argumento da competitividade e da libertação da iniciativa privada. Hoje, voltam sob a mesma lógica, mas com consequências agravadas por um contexto de elevada desigualdade e fragilidade social. O chamado trickle-down economics— essa doutrina repetidamente desmentida pela realidade — continua a ser o dogma orientador. O que se apresenta como política fiscal é, na verdade, um credo ideológico: desonerar os mais ricos, enfraquecer a capacidade redistributiva e social do Estado, e entregar ao mercado o papel de árbitro absoluto do mérito.
A economia americana pode, sem dúvida, crescer com esta lei. Mas crescer para quem? E com que efeitos colaterais? O crescimento económico, quando desancorado da justiça fiscal, é um fenómeno cego: alimenta bolhas, aprofunda clivagens e mina a confiança coletiva. Esta lei institucionaliza uma política........
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