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O Estreito de Ormuz e a Urgência de uma Autarcia estratégica

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05.07.2025

Temos assistido nos últimos dias a um escalar no Médio Oriente devido ao ataque perpretrado pelos EUA a instalações nucleares iranianas que reacenderam a tensão geopolítica, criando um novo ponto de rutura com consequências globais. A resposta iraniana, com ameaças explícitas de encerrar o Estreito de Ormuz, deve ser analisada com o maior grau de seriedade, uma vez que representa uma potencial catástrofe económica e energética com especial impacto na Europa, e que não parece estar tão mediatizada como deveria pois, pode afetar o nosso quotidiano seriamente. O Estreito de Ormuz, que separa o Golfo Pérsico do Golfo de Omã, é uma das mais estratégicas rotas marítimas do planeta: cerca de 20% de todo o petróleo mundial, e grande parte do gás natural liquefeito exportado pelo Qatar, passa diariamente por esta estreita via. O seu encerramento, mesmo que temporário, implicaria uma rutura súbita nos mercados energéticos, uma escalada nos preços dos combustíveis e uma nova vaga de inflação com efeitos severos sobre o tecido produtivo europeu.

A Europa encontra-se numa situação de profunda vulnerabilidade estrutural. Após a pandemia, a guerra na Ucrânia e a crise energética posteriormente, os Estados-membros da União Europeia revelaram uma dependência excessiva de fontes externas de energia, bem como uma fragilidade industrial preocupante. A liberalização das últimas décadas, apesar de ter trazido crescimento económico, deixou a Europa exposta a decisões de regimes instáveis e de potências concorrenciais. A interrupção do trânsito no Estreito de Ormuz não seria apenas um problema logístico ou comercial — seria, no caso europeu, um choque económico sistémico. Como afirmava Hans Morgenthau, no seu realismo político, os Estados devem basear as suas decisões em interesses nacionais objetivos, e não em esperanças normativas. Ora, esperar que a estabilidade internacional se mantenha por inércia ou por via de acordos multilaterais — como sustentaria um liberal institucionalista como Keohane — é hoje, mais do que nunca, um erro estratégico.

A Europa deve preparar-se, com caráter de urgência, para uma rutura com os pressupostos em que assentou a sua prosperidade recente. A dependência energética externa é hoje o maior entrave à sua autonomia estratégica. Um bloqueio a este canal causaria uma escalada nos preços da energia( que já estamos a testemunhar), que por sua vez encareceria a produção industrial, agravaria a inflação e forçaria uma retração do consumo. Países como a Alemanha, cujo modelo económico assenta na exportação e na energia barata, entrariam rapidamente em recessão técnica. No Sul da Europa, onde a recuperação económica ainda não é estrutural, os efeitos seriam ainda mais graves: estagnação prolongada, quebra da competitividade e falência de setores-chave da economia.

Perante este cenário, é da minha convicção que a União Europeia deve adotar........

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