Educar sem a Família é usurpar
A recente reformulação da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, proposta pelo Governo português, reacendeu um debate central sobre o papel do Estado, da escola e da família na formação dos jovens. Ao reduzir a centralidade de temas como a sexualidade e a identidade de género, e ao reforçar a presença da literacia financeira e do empreendedorismo, Governo afirmou estar a libertar o currículo das “amarras ideológicas”. Mas o que está realmente em causa vai muito além da simples reorganização de conteúdos: trata-se da definição do próprio projeto educativo da sociedade portuguesa.
É necessário reiterar com clareza que esta reforma tem méritos. A literacia financeira é absolutamente crucial para a emancipação real dos indivíduos. Vivemos num tempo em que a ignorância financiera aprisiona os cidadãos em ciclos de endividamento, dependência e fragilidade económica. A liberdade, conceito tão abusado quanto esvaziado nas discussões atuais contemporâneas exige, para ser plena, autonomia económica. Um cidadão que não sabe gerir o seu rendimento, que não compreende a fiscalidade ou que é incapaz de tomar decisões financeiras prudentes, é um cidadão vulnerável, mesmo que conheça de cor os tratados internacionais sobre direitos humanos.
Por isto mesmo, saúdo o Governo na valorização destes conteúdos pois, representam uma vitória da responsabilidade individual, da meritocracia e da capacitação prática sobre uma educação puramente teórica ou simbólica. No entanto, esta reestruturação também levanta questões importantes que não........
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