Nós, pais de crianças com deficiência
7 de outubro de 2016, dia em que chorei de emoção. Foi o dia em que me tornei mãe.
Contei os cinco dedos de cada uma das suas mãozinhas e confirmei que era perfeita.
Na primeira noite, a Matilde dormiu nos meus braços. Não a consegui largar. Talvez o instinto materno de que tantos falam, tenha impedido de a deitar no berço.
Já de manhã, a enfermeira Inês foi a primeira a vê-la. Foi rápida a perceber que algo não estava bem. Não sei se passaram muitos ou poucos minutos até ser levada para a Neonatologia, mas foi esse o momento de ligar à família e avisar que, afinal, não podiam ir conhecer a minha bebé.
Foi assim que entrei no mundo da deficiência. O mundo onde ninguém quer entrar. Um mundo que, a maioria, prefere ignorar. O melhor é nem se falar sobre o assunto e evitar ao máximo “a palavra”. Aquela palavra. A palavra (quase) proibida. Deficiência! Sim, cheguei a ouvir “não digas isso”.
Desde o início, senti que me fazia bem falar sobre o tema. Embora, nos primeiros dias, não soubesse o que dizer. Nem os médicos conseguiam responder às minhas questões. Apenas diziam “Estamos a investigar. É uma bebé “molinha” sem capacidade de se alimentar”.
A vida profissional foi afetada. Fiz uma pausa prolongada no trabalho. Senti que ou era mãe ou era professora. Não conseguia conciliar as duas árduas tarefas.
Em casa, passei a ser mãe e terapeuta. Não tinha de ser, mas a culpa por não fazer mais e melhor pela minha filha........
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