“Herdeiros” em causa própria
1 Assumo: é uma causa própria. Mas gosto muito da palavra “legado”. Pelo que significa e pelo que pode representar como responsabilidade ou recusa. Orgulho ou banição. Tradição ou contestação. Continuação ou fim.
Do mesmo modo que há que honrar os talentos recebidos, sempre me interroguei sobre a responsabilidade do legado recebido. Faz-se caso de um legado ou faz-se de conta? Os que se sucedem numa família, filhos, netos, bisnetos, olham para trás inspiram-se, ou… seguem em frente? Partem para a vida facetados pela “cultura” da casa onde nasceram, tendo no visor o passado e a passada dos pais , do que fizeram, e representaram? Ou seja, saíram de casa com a responsabilizante intenção de “continuar” – ampliando e inovando – alguma coisa já começada? Ou decididos a partir para outra, escolhida por eles?
Falo obviamente de um legado lato senso: cultural, politico, social, mais do que apenas profissional. Civilizacional, talvez, numa palavra.
Decidi perceber melhor tudo isto. A seguir propus a esta “casa” uma nova série de podcast, e a seguir parti para a empreitada. Logo na primeira esquina estava o embaraço da escolha à minha frente: largo era o leque da escolha! E depois, como em tudo – isto é, após trabalho e critério – apurou-se uma escolha. Tal como um cozinhado ao lume, à procura do melhor “ponto” em que sabor e apuro se encontram.
2 Em resumo: de que se tratava afinal? Tratava-se de conversar com os filhos/filhas de pais que tiveram intervenção publica relevante em várias áreas do país e cujos filhos possuem hoje — tendo ou não seguido as pisadas maternas ou paternas nas mesmas áreas de intervenção – o mesmo grau de qualidade e notoriedade pública.
Não só poderia ser interessante dar voz – ampliando a que já têm – a uma outra geração de boa colheita, como pôr em relevo a importância da cultura da “casa” onde nasceram e o que trouxeram consigo desse legado de valores, princípios, costumes, modos de vida. E sobretudo, de como o interpretam hoje – ou não – ou dele se inspiram ou não – nas suas profissões, intervenções ou mesmo decisões.
No fundo era uma espécie de “dois-em-um”: ouvir as muito variadas histórias do elenco destes “filhos” inseridos no Portugal de hoje – e ao mesmo tempo recordar o valor da “marca” ontem impressa pelos pais, no país.
3 Acabou esta semana e foi uma grande viagem. Findou com o formidável © Observador
