A liberdade desconcerta
Ser liberal em Portugal é uma afirmação desconfortável. Um gesto que implica recusar o controlo disfarçado de proteção, desconfiar do amparo disfarçado de empatia e pensar por conta própria num país onde o consenso mora no Estado. Não é uma excentricidade nem um privilégio de classe. É uma escolha racional: acreditar que a liberdade individual, a responsabilidade e o mérito não são ameaças, mas condições de dignidade.
Essa escolha, quando vem de uma mulher jovem, provoca um espanto particular. Não raras vezes surgem insinuações de que se trata de vaidade, oportunismo ou submissão intelectual a um discurso “masculino”. Como se a autonomia feminina só fosse legítima se fosse determinada pelo poder público ou legitimada por consensos institucionais. O liberalismo desconcerta porque rasga esse guião.
Em Portugal, ser liberal incomoda. Não por prometer revoluções, mas por recusar fantasias. Num país habituado à tutela, a simples ideia de confiar nas pessoas em vez de no Estado é........
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