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Não à Babygirl, sim à mulher empoderada

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08.03.2025

Dia Internacional da Mulher — mais um ano para celebrar conquistas. Mas também mais um marco para sinalizar os avanços que ainda falta fazer na afirmação da sua dignidade, presença e liderança no espaço público, designadamente no cinema, na publicidade e nos media.

Na sétima arte assinalam-se regressões significativas ao continuarem a realizar-se filmes como o que estreou em Dezembro em Portugal (em Agosto de 2024 no festival de Veneza) que coloca uma mulher de gatas (não, não é uma figura de estilo), em pose canina, diante de um homem a quem obedece encarnando, submissa, todos os clichés e fantasias sexuais que ele lhe ordena. Foi ela que pediu. Mas não é por ser ela a desejar expor-se a estes jogos eróticos que a excitam que se ultrapassa a evidente e desmesurada ênfase na sexualização da protagonista. Alguma crítica tentou densificar o argumento do filme Babygirl alegando que é ela a CEO da empresa e ele um jovem estagiário; que é uma abordagem, diferente, de uma relação complexa de poder e de sexo; que aqui, quem tem poder o poder é a figura feminina. Pode refutar-se que para passar essa mensagem não era necessário uma sexualização tão intensa da personagem principal. O que o grande écran explora, nestas cenas, é uma relação desequilibrada em que um homem dita as regras de relacionamento a uma mulher submissa, sedenta de sexo sadomasoquista. Nicole Kidman ganhou o prémio Volpi de melhor actriz, no festival de Veneza. Mas nem a actriz nem o argumento conquistaram o júri que seleccionou as obras e os actores que entraram na lista dos candidatos aos óscares.

Babygirl é, manifestamente, um thriller erótico. Durante a rodagem saíram notícias, confirmadas posteriormente por declarações da actriz, sobre o seu mal-estar na gravação das cenas eróticas afirmando que estava cansada de fingir tantos orgasmos e solicitando várias vezes à equipa técnica que se retirasse do plateau para ela poder descansar. Quando uma actriz de pedestal e com fortuna aceita ser a figura principal de uma obra destas realizada também por uma mulher – a holandesa actriz e produtora Halina Reijn – compreende-se melhor que, tocando precisamente neste ponto sensível, Nicole Kidman tenha dito numa entrevista que não teria aceitado participar no filme se ele não fosse realizado por uma mulher! Pois… É que haverá, de certeza, homens realizadores mais feministas do que a realizadora do filme que se teriam coibido – mesmo que decorresse de um acto de auto censura – de imprimir na figura feminina tantos clichés e........

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