menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Portugal, os Brasileiros e o Desafio da Convivência Europeia

8 1
18.07.2025

Nos últimos anos, Portugal tem assistido a uma mudança demográfica significativa. Segundo dados oficiais do Itamaraty, a comunidade brasileira em Portugal atingiu as 513 000 pessoas em 2023, o que representa um crescimento impressionante de mais de 150 000 imigrantes apenas no último ano. Trata-se da segunda maior diáspora brasileira no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos da América, que conta com mais de dois milhões de brasileiros, e de longe a maior na Europa, com mais do dobro dos 230 mil brasileiros presentes no Reino Unido.

Portugal sempre foi um país de emigrantes. A minha própria história familiar faz parte desse movimento: sendo natural da Galiza, estou familiarizado com a experiência de viver entre fronteiras geográficas, culturais e linguísticas. Lembro-me de que muitos galegos, entre os séculos XIX e XX, partiram em massa para o Brasil e para a Argentina à procura de melhores condições de vida. Fugíamos da pobreza, da fome, do desemprego e das perseguições políticas. Encontrámos nessas terras sul-americanas oportunidades, mas também dureza.

No Brasil, os galegos instalaram-se em grande número no Rio de Janeiro e em São Paulo, muitas vezes em bairros operários como a Mooca ou o Brás. A semelhança entre o galego e o português facilitou, em parte, a nossa integração. Ainda hoje, milhões de brasileiros são descendentes desses emigrantes galegos que chegaram com quase nada e trabalharam em silêncio na construção civil, nos comércios locais, nas padarias e nas pequenas empresas.

Na Argentina, a presença galega foi ainda mais marcante. Buenos Aires chegou a ser conhecida como a “quinta província galega”, tamanha era a nossa influência cultural. O termo “gallego” passou a ser usado para designar todos os espanhóis, embora fôssemos, de facto, uma grande minoria dos espanhóis que ali se estabeleceram. Trabalhávamos na agricultura, na pesca e na indústria e criámos centros culturais e associações para manter viva a nossa identidade. Embora........

© Observador