O Caminho de Santiago: a Galiza, irmã gémea de Portugal
A peregrinação a Santiago de Compostela deveria representar muito mais do que uma jornada espiritual para os portugueses. Deve ser um reencontro com uma identidade cultural partilhada que a história política dividiu, mas que a geografia, a língua e as tradições mantiveram viva. Ao longo de dez dias em agosto, percorri 200 quilómetros entre Chaves e Santiago, e constatei que a Galiza não é um território estrangeiro, mas sim uma extensão natural de Portugal para além das fronteiras administrativas.
Nasci em Ourense, tal como os meus pais, os meus avós e incontáveis gerações que me antecederam. A minha família, tal como milhares de outras, foi tecendo, ao longo dos séculos, uma rede invisível de ligações entre as duas margens do rio Minho. A minha avó paterna atravessava clandestinamente a fronteira na zona do atual Parque Nacional da Peneda-Gerês, durante e após a Guerra Civil Espanhola. O meu avô materno vinha a Portugal comprar azeite para fazer crepes, que depois vendia nas feiras galegas. Estes pequenos atos de sobrevivência criaram laços económicos e culturais que precedem qualquer divisão política.
Aos 12 anos, em 1973, vim para Lisboa, onde estudei durante sete anos no Instituto Espanhol “Giner de los Ríos”. Foi lá que cresci com dezenas de filhos de outros emigrantes galegos que, tal como as nossas famílias, tinham escolhido Portugal para reconstruir as suas vidas. No entanto, a história tomou um rumo inesperado.
Após a Revolução de 1974 e durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso), muitas famílias galegas viram as suas pequenas empresas, como tascas, pensões e restaurantes, serem ocupadas ou........
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