Marx andou a gozar com a nossa inteligência
Na teoria marxista há um aspecto decisivo que é ao mesmo tempo o seu elo mais fraco. Trata-se da infeliz tese do decréscimo da taxa de lucro das empresas capitalistas que induziria as crises permanentes da economia capitalista, apressando a sua queda final, substituída – não sem alguma violência, que a Marx em nada repugnava, antes pelo contrário – pelo novo sistema económico socialista.
Não quero maçar os leitores com matéria tão árida mas não resisto a chamar-lhes aqui a atenção para a incongruência da tese marxista. De espantar é como os camaradas nela acreditaram tanto tempo.
A tese é exposta no capítulo 13.º do Livro III de O Capital, publicado postumamente por Engels. Sempre me intrigou como era possível que Marx sustentasse tamanha enormidade. A dificuldade foi sempre cuidadosamente ocultada pelo marxismo ortodoxo com que tive a infelicidade de ser confrontado, anos antes do 25 de Abril, livremente exposto através de injecções de marxismo barato que levávamos na universidade e que, escusado será dizer, considerei sempre um atentado à (minha) inteligência. Hão-de-me desculpar os ainda ortodoxos, mas há muito que queria chamar a atenção do público para a imbecilidade que consiste na tese do decréscimo da taxa de lucro das empresas capitalistas e daí das inexoráveis «crises» que acabariam na derrota final do capitalismo; acelerada, claro está, pelo partido armado ou não fosse a «arma da crítica» poder dispensar a mais realista «crítica das armas», como o próprio confessava depois da comuna de Paris em 1871.
A baixa da taxa de lucro não é um aspecto marginal da ortodoxia marxista. É, pelo contrário, uma sua peça fundamental, como o próprio Marx reconheceu. Tinha ele perfeita consciência da importância decisiva do que estava em causa. Se falhasse seria todo o edifício que alicerça a compreensão marxista do capitalismo que ruía. Schumpeter também o viu bem. Ao menos nisto Marx não se enganou. Forneceu uma explicação completamente falsa e até ridícula, tão tendenciosa e comprometida é. Mas se os alicerces falhassem o edifício ruía. Creio que o próprio se apercebeu disso, mas já era tarde demais para recuar.
Vejamos. Bem lido o referido capítulo 13.º, palco de incongruências e até de contradições, mal branqueado por uma vulgata aritmética (os camaradas falam como de coisa séria dos «profundos» conhecimentos matemáticos de Marx) que nada explicam, conclui-se o seguinte, e em termos sintéticos: o lucro da empresa........
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